MESTRE OMRAAM MIKHAËL AÏVANHOV
II
O que muito me agradou quando viajei pela Índia, e que me fez também reflectir, foi que em cada casa, tanto a mais pobre como a mais rica, havia sempre um pequeno altar com imagens ou estatuetas de divindades diante das quais estavam acesas lamparinas e ardiam alguns paus de incenso.
Os grandes Mestres da Índia conseguiram incutir nos homens e mulheres daquele país a necessidade de reservar um pequeno lugar para todos os espíritos luminosos a fim de receberem a sua ajuda e a sua protecção.
Este lugar tanto pode estar no exterior como no interior da casa.
Até os hotéis têm pequenos santuários nas varandas ou nos terraços e vêem-se também muitos nas ruas.
Evidentemente, o que menos me agradou foi que raramente vi altares bem conservados: havia toda a espécie de coisas no espaço onde estava o altar e até as imagens estavam muitas vezes sujas e estragadas, como se as pessoas de lá não dessem qualquer importância à ordem e à limpeza, mas apenas ao lado simbólico das coisas.
Os espiritualistas, os místicos, precisam de ter um lugar para se recolherem e orarem.
Evidentemente, é preferível poder fazê-lo na solidão de uma sala onde não se corra o risco de ser incomodado.
Por isso, recomendo-vos que, se possível, tenhais em vossa casa um lugar que fique à parte, sagrado, onde nem toda a gente possa entrar, mesmo que não seja maior do que uma cabine telefónica.
O essencial é que seja um lugar consagrado cujas vibrações, cujos fluidos subtis, irão permitir-vos entrar mais facilmente em contacto com as entidades celestes.
Lembro-me de que, antigamente, na Bulgária, havia em todas as casas um pequeno nicho onde era colocado um ícone diante do qual as pessoas vinham todas as noites acender a lamparina e recolher-se um instante a fim de ficarem protegidas durante a noite.
Este costume também existia em muitos outros países, porém hoje está quase abandonado por todo o lado.
Os seres humanos perderam o desejo de se ligar, a eles e a toda a família, com essas forças luminosas que podem guiá-los, protegê-los.
Já nem sequer crêem que pode existir essa protecção invisível.
Têm outras protecções; protecções físicas, materiais, graças às quais julgam estar mais protegidas, o que em certos casos é verdade, mas noutros não.
É bom estarmos protegidos no plano físico e a técnica está sempre a preparar novos aparelhos para assegurar a segurança dos seres humanos; porém, é também indispensável estarmos protegidos, do ponto de vista espiritual, por correntes, por entidades celestes.
Mas esse lugar de que estou a falar-vos, esse lugar nas nossas casas, que é bom prepararmos e purificarmos, para que aí se instale a Divindade, é apenas a concretização no plano físico de um outro lugar, invisível, aquele de que Jesus falava, ao dizer: «Quando orares, entra no teu aposento, fecha a porta e ora ao teu Pai que está aí, no aposento secreto.»
Este aposento secreto não é outra coisa senão um estado de consciência.
Quando conseguis criar em vós o silêncio e a paz, quando tendes necessidade de exprimir ao Senhor o vosso amor por Ele, estais já nesse aposento secreto.
Ele pode estar no coração, pode estar também na mente, na alma...
Na realidade, é um estado de consciência superior até onde vós conseguistes elevar-vos.
Meditais, por exemplo, acerca de verdades sublimes que não conseguis captar, e eis que ao fim de algum tempo conseguis compreendê-las.
O que se passou?
De onde veio essa compreensão?...
O vosso espírito já a possuía desde sempre, mas era um domínio ao qual a vossa consciência ainda não tinha tido acesso.
Porque o homem, que não sabe o que se passa no seu subconsciente, também não sabe o que se passa no Alto, no Céu, no seu Céu, no seu espírito, a superconsciência.
Podeis fechar-vos tantas vezes quantas quiserdes entre as quatro paredes de um quarto e aí orar: se não tiverdes amor pelo Senhor, se não conseguirdes atingir esse estado de fervor que é próprio da oração, não podereis encontrar esse aposento secreto nem entrar nele.
O aposento secreto é o estado de grande concentração, de paz, de silêncio interior, em que tudo o resto se extingue, em que não existe mais nada senão a vossa oração, a vossa palavra interior que percorre o espaço.
Nesse momento, mesmo se não souberdes que estais nesse aposento secreto, vós estais lá realmente.
O aposento secreto é um símbolo magnífico e de uma grande profundidade, que era certamente conhecido muito antes de Jesus.
Todos os Iniciados e místicos sabem que para orar é preciso entrar nesse aposento interior, porque no exterior o Céu não os ouvirá.
Porquê?
Imaginai que estais na rua e que quereis falar a um amigo que se encontra noutra cidade: não podereis fazê-lo, a menos que entreis numa cabine telefónica, porque há lá um aparelho onde marcareis um número e estabelecereis a comunicação.
Se ficardes na rua, por mais que griteis, por mais que berreis, o vosso amigo não vos ouvirá.
Da mesma maneira, para serdes ouvidos pelo Céu, é preciso que entremos nesse aposento secreto de que falava Jesus, porque ele também está apetrechado com aparelhos telefónicos que permitem comunicar com os mundos superiores.
Continua
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