quarta-feira, 5 de julho de 2017

A MORTE E A VIDA NO ALÉM

MESTRE  OMRAAM  MIKHAËL  AÏVANHOV

I

Continuação - 2

O corpo físico é uma boa fortaleza, mas se o homem tiver transgredido as leis do amor, da sabedoria e da verdade, quando deixa esse corpo, na altura da morte, é forçado a pagar, no plano astral, por todas essas transgressões.
Isto não é invenção: os maiores Mestres da humanidade sempre o disseram; grandes artistas, pintores e poetas representaram esse mundo nas suas obras; e pessoas clinicamente mortas durante três ou quatro dias voltaram à vida e puderam contar o que tinham vivido no plano astral.
O Céu permite que, de tempos a tempos, algumas pessoas passem por esta experiência, para levar os humanos a ganhar juízo, para lhes lembrar certas verdades.
Assim, depois da morte o homem fica sujeito, no plano astral, ao mal que fez aos outros e tem de sofrer por todas as transgressões que cometeu.
Não é que a Inteligência Cósmica queira vingar-se ou castigá-lo; ela apenas quer que o homem tome perfeita consciência de tudo aquilo que fez na terra, porque muitas vezes ele fez sofrer seres sem sequer se dar conta disso, e esta ignorância é inaceitável, impede a sua evolução.
Portanto, a Inteligência Cósmica faz-nos passar pelos sofrimentos que infligimos aos outros para que nós aprendamos bem o que fizemos e possamos corrigir-nos.
O tempo que lá passamos depende da gravidade dos nossos erros.
Certas pessoas, que não cometeram grandes crimes, atravessam rapidamente esta etapa, ao passo que outras passam lá anos em sofrimento.
Depois de ter pago todas as suas dívidas, o homem entra na primeira região do astral superior, onde vive na alegria e no deslumbramento, devido à felicidade que proporcionou aos outros na terra.
Ele deve viver no astral, também, todo o bem que fez aos outros (ajudando-os, encorajando-os, incutindo neles a esperança, despertando neles a fé ou o amor), ampliado até ao infinito.
Só nessa altura é que ele se dá conta daquilo que fez na terra.
Com efeito, acontece que alguns seres muito evoluídos fazem o bem sem nunca saberem quantas pessoas tornaram felizes, a quantas pessoas levaram a alegria, o contentamento e a vida; eles fazem-no instintivamente, sem pensar nisso.
Mas a Inteligência Cósmica quer que as pessoas conheçam tudo.
Então, depois da morte, esses benfeitores têm de ver, de compreender e de sentir todo o bem que fizeram, e ficam deslumbrados com isso.
Depois, eles sobem mais alto, à região do plano causal, onde lhes são oferecidos todos os tesouros, todas as riquezas da sabedoria, onde lhes são comunicados todos os mistérios do Universo e lhes é mostrada toda a beleza das regiões celestes.
Em seguida, sobem ainda mais alto, à região búdica, e aí, unidos à Alma Universal, vivem uma vida de felicidade indescritível.
E não há palavras para exprimir o que se passa depois no plano átmico: é a fusão completa com o Criador...
Quando chega a altura de reencarnar*, o homem volta a passar pelas mesmas regiões (átmica, búdica, causal, etc.) e, em cada uma delas vai buscar materiais para fazer um "casaco", quer dizer, um corpo cada vez mais denso à medida que vai descendo para a matéria.
Quando chega ao plano físico, na forma de um bebé, não se recorda de nada - nem do que sofreu, nem do que gozou, nem do que aprendeu.
Mas está lá tudo armazenado e um dia ele recuperará a memória, se aceitar certas disciplinas e certas regras de vida sob a orientação de um Mestre.
Aqueles que conseguem fazer sair das profundezas do seu ser a recordação daquilo que viveram no além avanam muito mais rapidamente no caminho da evolução.
Infelizmente, a maioria dos humanos estão tão apegados aos prazeres e às paixões da terra que todos esses conhecimentos e todas essas riquezas permanecerão profundamente enterrados neles durante muito tempo sem eles poderem utilizá-los para seu benefício.
Felizes os que conhecem esta realidade e crêem nela, pois não aceitam continuar a viver uma vida medíocre.
Em cada dia que passa, eles querem avançar, progredir em inteligência, em amor, em autodomínio, para se tornarem úteis a toda a humanidade.

Mas voltemos ao essencial: quer acreditemos ou não, na sobrevivência da alma depois da morte, tudo se regista em nós sem darmos por isso.
Há muito que a Natureza ultrapassou os maiores peritos de electrónica; ela colocou na ponta do coração do homem uma bobina magnética, do tamanho de um átomo, que gira durante toda a vida e que grava tudo.
Quando o homem parte para o outro lado, desliga-se do seu corpo físico mas leva consigo essa bobinazinha.
Os Juízes do Alto convidam-no a contemplar, em silêncio, o filme da sua vida, e ele revê tudo em pormenor.
Sim, ninguém pode escapar a esta lei: na vida tudo se regista, deve-se pagar no plano astral por cada transgressão que se cometeu aqui em baixo e sente-se tudo com muito mais intensidade, porque já não se tem a protecção do corpo físico.Não há nada mais terrível do que estar nu e vulnerável no plano astral, pois os pensamentos e os sentimentos dos vivos vêm directamente morder-vos, picar-vos, queimar-vos.
Não podeis escapar-lhes.
Mesmo as lamentações e os desgostos dos vivos que deixaram na terra são um tormento para os mortos.
Só quando entrais no plano causal é que já nada pode atingir-vos, estais no centro de um círculo mágico de luz e nada pode franqueá-lo sem o vosso consentimento.
O domínio da alma e do espírito é verdadeiramente extraordinário e, uma vez que estais numa Escola Iniciática, se souberdes ser pacientes e tenazes aprendereis muito.
Mas, atenção!
É meu dever prevenir-vos de que, se vos deixardes atrair por futilidades e renunciardes a esta riqueza espiritual por pequeninos nadas da vida quotidiana, quando partirdes para o outro mundo passareis por estados de consciência aterradores, porque não soubestes apreciar o que é puro, sagrado, divino.
Vós direis: «Mas isso não é grave, eu não assassinei ninguém.»
É grave, sim; o facto de não apreciardes o lado divino não abona nada em vosso favor.
Isso significa que, no passado, vivestes de uma maneira tão deplorável que preparastes para vós um corpo astral e um corpo mental totalmente defeituosos.
Vós retardastes tanto a vossa evolução que agora vos falta um elemento que vos torne sensíveis ao mundo divino, e tereis de sofrer para o adquirir.

                                                      Bonfin, 26 de Setembro de 1975

*Acerca da reencarnação e das suas leis,
  ver do mesmo autor, o capítulo VIII de "O homem à conquista do seu destino"
(nº. 202 da colecção Izvor)

Sem comentários:

Enviar um comentário