II - Como substituir o prazer pelo trabalho (páginas 64 a 74) - Continuação - 2
Quase todos se ficam pelo meio do caminho, porque aí tudo é atraente, agradável...
Mas também é lá que se encontra as sereias e se fica dilacerado.
Lembrai-vos da lenda de Ulisses.
Como Ulisses era sábio!
Ele sabia que encontraria as sereias e que elas tentariam atraí-lo com o seu canto, para o devorar.
Por isso, tomou as suas precauções: tapou os ouvidos dos seus companheiros com cera, para eles não poderem ouvir a voz das sereias, senão seriam incapazes de resistir ao seu encanto...
Ele não tapou os seus ouvidos, porque desejava escutá-las, mas ordenou aos companheiros: «Amarrai-me ao mastro, e se eu vos fizer sinal para me desamarrardes, apertai ainda mais as cordas!»
O barco aproximava-se da ilha das sereias; ao ouvir as suas vozes, Ulisses perdeu a cabeça e, desejando ir ter com elas, gritava: «Desamarrai-me! Libertai-me!»
E ameaçava os companheiros de os matar se não lhe obedecessem.
Mas eles, fiéis ao combinado, apertaram as cordas...
Estais a ver?
As sereias são o meio do caminho, e não devemos deter-nos a meio caminho.
É claro que se encontram lá todos os encantos e seduções, mas, ainda assim, é preciso não parar.
Também conheceis "Parsifal", a ópera de Wagner.
Parsifal chega a um prado onde se encontram moças, jovens-flores, que tentam seduzi-lo, mas por detrás dessas mulheres, dessas flores, estavam escondidas serpentes...
Estas lendas, e há muitas mais na literatura mundial, contêm grandes verdades ocultas.
Ulisses, Parsifal, são símbolos do Iniciado que encontra tentações no seu caminho.
Mas ele não pode parar, senão perde a vida.
Tem de continuar até ao topo, porque, uma vez lá chegado, receberá tudo, ser-lhe-á dado tudo: repouso, alimento, beleza, amor.
Pode ainda apresentar-se esta aventura de uma forma um pouco diversa.
Vós tendes uma missão a cumprir e para tal precisais de atravessar uma floresta onde existem todas as espécies de flores e de frutos, principalmente moranguinhos...
Então, começais a parar aqui e ali para apanhar os morangos, sem vos dardes conta de que estais a perder muito tempo; claro, eles são bonitos e apetitosos!
Mas eis que cai a noite e vós já não sabeis onde estais nem qual a direcção a tomar, ficais perdidos, não encontrais a vossa estrada; começais a ouvir os gritos dos animais, o estalar das árvores, e ficais cheios de medo...
Pois bem, é o que acontece aos discípulos que param no caminho por causa dos lindos morangos!...
Dir-me-eis que nunca parareis para colher morangos.
É possível, mas esses morangos podem muito bem ser umas mocinhas simpáticas ou alguns copos num bar.
Isto é simbólico, compreendeis?
Os moranguinhos poderão ser também morangões!
E o prazer está justamente nos morangos, nas sereias, nas jovens-flores e, se não resistirdes, sereis devorados.
Por quem?
Pelos elementais, pelas larvas, pelos indesejáveis, pelos espíritos subterrâneos.
Eles vêem que estais a dar um banquete e aproximam-se.
Eu já vos expliquei que as trocas amorosas entre os homens e as mulheres são banquetes que atraem os espíritos do mundo invisível.
E quando, em tais trocas, eles buscam apenas o prazer, estão a convidar para esse banquete toda a espécie de entidades inferiores que se nutrem à sua custa, enquanto eles vão enfraquecendo constantemente.
Muito haveria a dizer acerca desses festins.
Quando um homem muito rico dá uma recepção, deve haver pratos variados, vinhos e flores em grande quantidade... e também a baixela, as pratas, as toalhas, os cristais...
Tudo isso custa muito caro, e há quem se arruíne por causa dessas recepções sumptuosas.
Pois bem, dá-se o mesmo fenómeno entre os amantes, quando eles não são pessoas esclarecidas: esbanjam o seu capital.
Infelizmente, eles não se apercebem de que estão a fazer dispêndios de forças e energias fluídicas, do mesmo modo que ignoram para onde vão essas energias.
Mas observai-os algum tempo depois: estão arruinados, depenados!
Continua
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