II - Como substituir o prazer pelo trabalho (páginas 64 a 74) - Continuação - 3
De resto, quando são dadas essas grandes festas de que eu vos falei, muitas vezes há ladrões e escroques que se infiltram por entre os convivas, aproveitando-se da presença de toda aquela gente para roubar dinheiro, jóias, objectos de arte.
O mesmo sucede com os amantes.
No decorrer dos seus festins, há ladrões que se introduzem dentro deles, mas ladrões da pior espécie, porque não vão roubar objectos, mas sim tudo o que existe nos corações e nas cabeças dos donos da casa.
Roubam a inspiração, as ideias, os impulsos, os projectos; e, uma vez assim despojados, os dois pobres infelizes já não terão o mesmo entusiasmo, o mesmo desejo de conhecer os segredos do Universo...
Não, agora têm outros desejos absolutamente prosaicos.
Sim, há que estudar, há que observar e, pela lei da analogia, saber interpretar tudo o que se passa na existência.
Meus caros irmãos e irmãs, eu conduzo-vos para as verdades que a Inteligência Cósmica me revelou.
Eu estudei e observei os humanos e vi que o que acabo de vos dizer é absoluto.
Quando se encontram apenas sob a influência do desejo, do prazer, o homem e a mulher introduzem ladrões dentro de si.
É indispensável, pois, que tenham uma meta mais elevada, para que a luz possa brotar neles.
A luz até pode aconselhar-lhes os mesmos banquetes, os mesmos convites, mas, em vez de atraírem todos os indesejáveis do plano astral, eles convidarão os anjos e as divindades a regozijarem-se com eles.
E essas entidades celestes, quando partirem, deixar-lhes-ão presentes, e assim eles receberão cem vezes mais do que aquilo que deram.
Nessas condições, nunca haverá perdas; pelo contrário, haverá revelações, arrebatamentos, ímpetos... e eles rejuvenescerão, ressuscitarão...
Não é devotando-se aos prazeres que os humanos encontrarão a solução do problema sexual, porque o prazer é apenas metade do caminho, e se ficarem por aí, eles sentir-se-ão, pouco a pouco, amarrados, presos, e perderão toda a liberdade.
Quando cai demasiada humidade sobre as asas de uma borboleta, ela não pode voar.
O prazer é isso mesmo: humidade a mais!
Quando vejo um homem cujas asas já não o aguentam (simbolicamente falando), não preciso de lhe perguntar aonde ele andou metido, já sei que ele expôs as suas asas à humidade.
Para mim, é bem claro que a humidade impede de voar.
E para secar à luz é preciso é preciso muito tempo.
Por isso, atenção: não vos deixeis enganar pelo prazer que vos fará parar no caminho...
Continuai até à luz!
Mas compreendei-me correctamente: eu nunca disse que entre os homens e as mulheres não deve haver muito amor.
Sim, eles devem dar muito amor uns aos outros, mas um amor mais elevado, mais luminoso.
Quer dizer, em vez de se contentarem com trocas no plano físico, de se excitarem, se satisfazerem e, em seguida, ressonarem, eles devem, isso sim, estar conscientes da importância e até do valor sagrado do acto sexual.
Mas não, todos têm pressa, muita pressa de se atolar nos pântanos, e não têm tempo para reflectir.
Reparai como vulgarmente as coisas se passam: aqueles gestos tão sacudidos, tão febris, aquele olhar ensombrado de sensualidade... o homem quer satisfazer-se, devorar, dilacerar, e a mulher é tão parva que nesse momento sente-se feliz ao ver no olhar do homem o desejo de devorá-la!
Ela devia antes ter medo do que a espera, porque esse olhar do homem mostra que ele está pronto a roubá-la, a tirar-lhe tudo: mas ela gosta disso, é o que ela mais deseja.
E se ele a olhar com respeito e admiração, com uma grande luz e uma grande pureza, ela até nem fica muito satisfeita: «Deste não tenho nada a esperar», pensa ela, e abandona-o.
Instintivamente, a mulher gosta de se sentir como uma massa nas mãos de um padeiro - revolvida, maltratada, atormentada -, isso dá-lhe prazer, ao passo que o respeito e os olhares luminosos nada lhe dizem.
Claro que há excepções, mas, no geral, isto é tão verdadeiro!
Dir-me-eis: «Mas então nunca se deve ter prazer?»
Sim, porém é preciso procurar um prazer muito mais subtil, muito mais espiritual.
O prazer, tal como é compreendido actualmente, acaba sempre por se transformar em veneno e amargura.
Quando se faz um corte num pedaço de chumbo, ele brilha durante alguns momentos, e logo a seguir, fica novamente baço.
Ora, o prazer assemelha-se ao chumbo.
Para que o vosso prazer permaneça brilhante e resistente como o ouro, deveis enobrecê-lo, ou seja, juntar-lhe um outro elemento: o pensamento.
Mas para isso tereis de substituir a ideia de prazer pela ideia de trabalho.
Continua